uma loja com história
A Filigrana de Portugal Certificada define a identidade de um espaço centenário no coração de Lisboa, a sublimar a arte secular da joalharia tradicional portuguesa desde 1924.
uma loja com história
O período pós-terramoto de 1755, em Lisboa, promoveu a construção da Muralha do Carmo junto às ruínas do convento do Carmo, na baixa da cidade. No decorrer de escavações feitas na muralha no início do século XX foram encontrados espaços desaproveitados e aí foram construídos alguns estabelecimentos comerciais, um dos quais a Ourivesaria Raul Pereira e Cia., Lda, com um imponente coração que domina e caracteriza a fachada, adotando em 1926 o nome “Joalharia do Carmo”. Hoje, mantendo a sua singularidade, é sobre a Filigrana de Portugal que recaem os holofotes.
O design e o mobiliário são originais: as credências com espelhos, os lustres em cristal Baccarat, as escadas de caracol e os tons de verde e dourado brindam à Filigrana Certificada. Classificada como «Loja com História» pela Câmara Municipal de Lisboa, a Joalharia do Carmo preserva intacta a sua identidade original, continuando a ser uma fiel guardiã da arte da ourivesaria intemporal, como um espaço de rara longevidade de uma loja que permanece honrosamente intacta na zona histórica de Lisboa.
A localização privilegiada no Chiado coloca a Joalharia do Carmo no centro da capital e do movimento pedonal da cidade, da mesma forma que o seu passado carregado de história e vinculado à Filigrana a coloca no epicentro da joalharia e da ourivesaria nacionais.
a fachada art déco
De estilo Art Déco da autoria do arquiteto Manuel Norte Júnior, que assinou também a fachada do icónico café A Brasileira do Chiado, a fachada da Joalharia do Carmo destaca as suas colunas coríntias e ostenta um brasão imponente como marca distintiva: o escudo português sobre a cruz de Cristo num faustoso coração coroado de castelos e ladeado de gloriosas folhas de louro, onde impera o dourado, característico do espírito da época em que foi construído.
A fachada inspirou o conceito do espaço. A Filigrana é protagonista, numa minuciosa sequência de finos fios de ouro e prata trabalhados à mão por mestres artesãos que desenham soberbamente obras de arte da mais fina joalharia portuguesa. Em motivos florais ou marítimos, representações da religião ou a inspiração no amor com os icónicos corações de Viana numa feliz relação com o coração que se impõe na fachada, a Joalharia do Carmo é uma montra de peças únicas que se revelam verdadeiras embaixadoras de Portugal no mundo.
inspiração: figurado de barcelos
Na Joalharia do Carmo cruzam-se dois universos num encontro perfeito, mas improvável: a nobreza da joalharia engrandece-se com a arte popular do Figurado de Barcelos, em peças de barro moldadas à mão e pintadas de cores vibrantes que destacam a delicadeza da Filigrana.
Recriar o real criando um imaginário foi sempre a verdadeira arte do Figurado de Barcelos, através das mãos que invocam memórias e narram a sua história em fábulas de barro. Que outra inspiração melhor poderia colocar em destaque os corações de Viana, os Brincos Rainha ou as arrecadas, onde tudo é alegria, tradição e criatividade? É a excelência artística do Figurado de Barcelos que apresenta ao mundo os fios de ouro da festa minhota, a afirmar o luxo da simplicidade, tão presente na expressão popular.
É o mundo fantástico da Filigrana de Portugal, encantado pelos acordes do cavaquinho, do acordeão e da concertina e a despertar sensações em vermelho-sangue e verde-esperança. Haverá festa mais genuinamente nossa?
uma ode à filigrana
Preto e dourado: Elegância e nobreza, sofisticação e distinção. É nesta conjugação de cores que o ilustrador Nuno Saraiva viaja no tempo, em pinceladas no teto abobadado do primeiro piso da Joalharia do Carmo, um espaço intimista. Inspirado na ilustração Filigrana do Carmo, Nuno presta homenagem à arte da Filigrana, contando a sua História em representações de mulheres cujas saias desenham as colinas da cidade.
A primeira mulher é uma aristocrata fenícia, com adornos filigranados. Os fenícios foram precursores na estética e engenho da Filigrana, fortemente influenciados pela arte egípcia. A segunda mulher é uma nobre patrícia romana que se passeava pelas ruas de Felicitas Julia Olisipo, a Lisboa do século I A.C.. Um tributo aos romanos, que criaram a arte e o nome: Filum Granum. A terceira mulher é uma moçárabe que exibe uma Mão-de-Fátima e esconde o mais primitivo símbolo católico, o peixe. Uma homenagem aos muçulmanos que embelezaram e deram brilho à Filigrana. A quarta mulher é a típica Minhota: engalanada de Filigrana, transporta ao peito o ouro em colares, corações de Viana, cruzes de Malta, moedas reais e republicanas e uma medalha da Senhora da Conceição, padroeira de Portugal.
Nuno Saraiva é autor e professor de banda desenhada e cartoon, e ilustrador. Colaborou com grande parte da imprensa portuguesa, desenhou as Festas de Lisboa e tem mais de uma dezena de exposições no seu currículo.